Não estamos de acordo com esse raciocínio utilitarista. O amigo pode servir, eventualmente, para uma grande necessidade, e isto é uma prova cabal de que a amizade é verdadeira. No entanto, ele servirá muito e também para os momentos de alegria, satisfação e para as horas serenas de confidência. Um amigo será tanto mais precioso quando conseguir provocar recordações as mais agradáveis nos que partilham da amizade. As longas horas de entretenimento, em conversa agradável, os partidos tomados em favor do amigo, os pequenos sacrifícios.
Grande coisa, importante coisa é ter um amigo. Desses que têm a serena autoridade de divergir da opinião emitida sem que haja choque, sem que haja orgulhos feridos. Desses que se tem a certeza que acudirá em momentos difíceis, mas que desejamos jamais precisar lhes dar esse trabalho. Desses que não precisam passar pela prova dos "momentos difíceis".
Texto retirado do livro Correio Feminino de Clarice Lispector.
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